segunda-feira, 3 de abril de 2017

PÁSCOA




Nós temos três Páscoas na história do povo de Israel:

Do hebraico PESAH. É relacionado com o verbo PASAH (saltar, passar por cima, poupar) Em Israel esta festa recebeu um sentido novo: tornou-se o "MEMORIAL" de um acontecimento histórico em que Israel reconheceu um ato salvífico de Deus, fazendo-o passar da escravidão à liberdade, da morte à vida.

Em primeiro lugar temos a Festa dos Pastores — relacionada com o sacrifício que os pastores nômades ou seminômades ofereciam e imolavam um cordeiro na primavera para obter a proteção de seus rebanhos contras as pestes.

Este ritual foi adotado pelos israelitas que lhe deram um sentido histórico: é a passagem de Deus para libertar o povo da escravidão e dos sofrimentos do Egito (Êx 12-13). Os Ázimos que era o rito dos agricultores (Gên 6, 1-16); Dt 16, 1-18 unifica as duas festas, embora o calendário levítico estabelecesse distintamente os dias de suas celebrações.

Em segundo temos a Páscoa que comemora a saída dos israelitas do Egito que se torna um “MEMORIAL”.  O tempo que os filhos de Israel tinham morado no Egito fora de quatrocentos e trinta anos. No Capítulo XII de Êxodo é instituído a Páscoa dos Hebreus. A época do ano em que deveria ser celebrada corresponde significamente à do ano nôvo egípcio, tempo das inundações do rio Nilo. Este período equivaleria à primavera no Oriente Médio; a denominação hebraica de primavera — aviv — provém, de certo, do antigo nome hebraico do mês em que a primavera começava e que, chamado também de aviv, aparece no capítulo 13, 4 do Êxodo. Atualmente chama-se este mês em hebraico, Nisan, e aviv só significa primavera. A ligação entre primavera e início de ano, prende-se ás antigas tradições dos povos agrícolas e pastoris, que no renascimento da natureza viam o reinício do ciclo da vida, sempre renovada. O termo Páscoa — em hebraico PESSAH — corresponde a “passar além, poupando” (cf Is 31, 5) o que muito bem se aplica ao fato histórico: Javé castigando os egípcios, poupando ou preservando os hebreus. A Páscoa cristã ocorre simbolicamente no mesmo período, ampliando a sua significação a todo gênero humano. Quanto aos ritos da celebração da Páscoa, temos: A imolação de um cordeiro macho e sem defeito, dentre os carneiros ou cabritos, que será guardado até o décimo quarto dia do mês e todas as famílias de Israel o imolará ao entardecer. O sangue era considerado pelos semitas como a fonte da vida. Explica-se, portanto que os hebreus, ao adaptarem tal rito a celebração da Páscoa, consagrassem o sangue a Deus, o Senhor supremo da vida. Ainda hoje os remanescentes dos antigos Samaritanos que, em pequeno número habitam a Palestina, celebram fielmente o ritual deste capitulo. Os levitas samaritanos sentem-se felizes por verem as próprias vestes borrifadas do sangue dos cordeiros, para indicar ativa participação no sacrifício. Os pais marcam a fronte de seus filhos menores com sangue do cordeiro; As ervas amargas não serviam para temperar a refeição, mas, simbolicamente, lembravam a amargura da servidão no Egito. Ao comerem “à pressa” o cordeiro pascal, sem nada deixar para o dia seguinte, os filhos de Israel comemoravam a atitude de quem está na iminência de partir, num gesto muito significativo. Todo este ritual perdura, até hoje, entre os israelitas em seus festejos da Páscoa; O fermento aqui é apresentado como símbolo da corrupção e os pães ázimos como expressão da sinceridade e da pureza de alma. O caráter sacro dos pães ázimos está ligado á recordação histórica do Êxodo do Egito, quando os hebreus dados à urgência da fuga (cf. VV. 34-39). O fermento tem farto uso no Novo Testamento: nos Evangelhos, ordinariamente indica corrupção (Mt 16, 6-11-12; Mc 8, 15; Lc 12, 1); há, todavia o emprego deste vocábulo com sentido positivo (Mc 13, 33; Lc 13, 21; 1 Cor 5, 8). Imolava-se o Cordeiro pascal e dava-se início á festa, na tarde do dia 14 de Nisan, que era para os israelitas de então — como o é ainda para os de hoje — o dia 15, pois o dia hebraico era contado de um a outro pôr do sol. Por sete dias só se podia comer pão não levedado. Os hebreus que saíram do Egito pela mão de Javé, eram em torno de seiscentos mil (600.000).

Jesus iniciou seu ministério após ter recebido o batismo. Isso aconteceu algum tempo depois do começo da atividade profética de João Batista. No décimo quinto ano do Império de Tibério Cesar (governou de 13 a 37 d.C.), sendo Pôncio Pilatos governador da Judéia (de 26 a 26 d.C.), sendo Anás e Caifás (Caifás foi sumo sacerdote de 18 a 36 d.C.; Anás, sogro de Caifás, que já fora sumo sacerdote de 6 (?) a 15, exercia grande autoridade no ambiente sacerdotal). Em Lucas (3,23) indica que “Jesus, quando iniciou (o seu ministério), tinha cerca de trinta anos”. De todos esses dados, os mais importantes para nosso conhecimento são o primeiro e o último, ou seja, “no décimo quinto ano de Tibério” e “Jesus tinha cerca de trinta anos”. Consequentemente, o décimo quinto ano a que se refere Lucas (3,1) deve ir de setembro-outubro de 27 a setembro-outubro de 28. A maior parte dos autores prefere esse cômputo porque, com base em cálculos astronômicos, ele situa a crucificação na véspera da Páscoa do ano 30. Na verdade entre o início da vida pública e a última Páscoa, a de 29 (João 6,4) e, retrocedendo, a de 28, alguns meses depois do início do ministério público de Jesus (João 2,13). Dionísio, o Pequeno, cometeu um erro sobre a idade em que Jesus começou o seu ministério, ele tomou os trinta anos como um número exato. No décimo quinto ano de Tibério na primavera de 27 e se retrocedermos até o ano da morte de Herodes, em 4 a.C., como já vimos. Logo no início de seu ministério, Jesus devia ter 33 a 34 anos, se retroceder ainda mais, até 9 ou 10 a.C., ele terá 36 ou 37 anos. O ano que teve início o ministério de Jesus, é 27, em seus últimos meses, é confirmado, quando Jesus encontrava-se em Jerusalém, por ocasião da primeira Páscoa de sua vida pública, no ano28. Os dados dos quatros Evangelhos dizem com certeza, que Jesus foi crucificado na véspera do sábado, no dia da semana que chamamos que sexta-feira e que os evangelistas, seguindo o uso dos hebreus de língua grega, chamam de PARASCEVE (PARASKEUÉ), vale dizer, ”preparação” do sábado, no dia festivo (Mateus 27,62; Marcos 15,42; Lucas 23,54; João 19, 14.31.42). Mas aquela sexta-feira era a véspera ou a festa da Páscoa? A pergunta surge da comparação entre a narrativa que os Evangelhos Sinóticos fazem dos acontecimentos e aquela apresentada pelo quarto Evangelho. Para compreender os termos usados pelos evangelistas, é oportuno recordar os costumes pascais no tempo de Jesus. A festa da Páscoa caía no dia 15 do mês lunar de Nisã (março-abril), ou seja, no plenilúnio de primavera. Mas a celebração começava na noite do dia anterior, 14 de Nisã. Na tarde desse dia imolavam-se, no templo, os cordeiros pascais; ao pôr-do-sol começava o tempo festivo e, em cada casa, tinha lugar a ceia pascal ritual. Como a obrigação, por sete dias de consumir apenas pão ázimo começava com essa ceia, o dia 14 de Nisã, podia ser chamado “o primeiro dia dos ázimos”. Note-se que a ceia pascal só podia ser consumida dentro dos limites da cidade de Jerusalém (daí o enorme afluxo de peregrinos) e que, por outro lado, não era permitido sair da cidade, durante a noite. Na narração do Quarto Evangelho, a ceia de quinta-feira aconteceu em Jerusalém, e Jesus, naquela noite, não saiu da cidade, o que permitiu sua captura. Por que foi cear em Jerusalém, em vez de permanecer com os amigos em Betânia, como nas outras noites, se não por querer celebras a Páscoa? A verdadeira da ta da Páscoa daquele ano é indicada pelo quarto Evangelho: Jesus foi crucificado na véspera d a Páscoa. No entanto, celebrou a ceia pascal na noite da quinta–feira. Segundo alguns autores, antecipou-a por sua vontade, como Páscoa incruenta, antecipação profética da Páscoa cruenta do dia seguinte (João 13, 1). Naquele ano, a verdadeira data da Páscoa caíra exatamente num sábado. Isso é confirmado por cálculos astronômicos, cujo resultado mostra que, entre os anos 28 e 33, o dia 14 de Nisã coincidiu, por duas vezes, com uma sexta-feira (Em 7 de abril de 30 e em 3 de abril de 33), mas nunca, por outro lado, o 15 de Nisã. Em 27, o 14 de Nisã também é uma sexta-feira, 26 de março, coincide com 15 de Nisã. Mas as datas de 27 e de 34 estão muito afastadas dos extremos entre os quais se pode situar o ano da crucificação, levando-se em conta os outros dados. Até o Concílio de Nicéia (Em 325), algumas comunidades cristãs da Ásia Menor ((Anatólia (do grego antigo Ἀνατολή, Anatolḗ — "leste" ou "erguer/nascer do sol"), ou península anatoliana, também conhecida como Ásia Menor ("pequena Ásia"; em grego: Μικρὰ Ἀσία; transl.: Mīkrá Asía), denota a protrusão ocidental da Ásia, que compõe a maior parte da República da Turquia), louvando-se em uma tradição apostólica, insistiam em celebrar a Páscoa no dia da morte de Jesus, em 14 de Nisã (o décimo quarto dia da lua da primavera). A maioria dos estudiosos é a favor de 30, porque — mesmo supondo-se que a duração do ministério de Jesus fosse de três anos em vez de dois, quando, se retrocede a partir do ano 33, a primeira Páscoa cai em 30, algo distante do décimo quinto ano de Tibério (27-28 ou 28-29). Em consequência, a idade de Jesus no fim da sua missão terrena devia ser 36 ou 37 anos. Se, em vez disso, a última Páscoa for situada no ano 33, devem-se supor três anos e alguns meses para chegar-se a 29 como décimo quinto ano de Tibério. A idade de Jesus seria, nesse caso, cerca de 40 anos. A opinião tradicional, segundo a qual Jesus teria sido crucificado aos 33 anos, deve-se á interpretação literal de “cerca de trinta anos” de Lucas (3, 23) e também ao fato de considerar-se uma Páscoa a mais a “festa dos judeus” de João (5, 1), o que é incompatível com a data da morte de Herodes em 4 a.C.


Em terceiro temos a Páscoa de Jesus Cristo, que diferentemente dos judeus do Êxodo, que celebravam em pé, com “as sandálias nos pés, os bordões na mão” (Êxodo 12, 11), prontos para partir, Jesus e os seus acomodam-se em divãs. É uma postura que expressa sua condição de pessoas livres muito diversas da situação de seus ancestrais. O rito pascal compreende quatro etapas: As preliminares, a liturgia, a ceia e a oração de encerramento. Entre uma e outra, bebe-se uma taça de vinho. Na fase preparatória procede-se á benção do dia festivo (QIDDUSH) e da primeira taça. Cabe a Jesus, líder do Grupo, pronunciar a dupla benção, após a qual é servido o que hoje chamaría-mos de antepasto: basicamente ervas amargas e um molho especial (HAROSET), composto de frutas como figos, tâmaras, uvas passas, maçãs e amêndoas, tudo temperado com vinagre. Em seguida tem início a liturgia pascal propriamente dita. Sempre como líder do Grupo Jesus receita a solene HAGGADAH (narração) da Páscoa, ou seja, explica os detalhes da ceia referentes á escravidão no Egito e a libertação. A cor amarelada do molho relembra os tijolos que os antepassados foram obrigados a fabricar. As ervas amargas e o pão ázimo recordam a miséria que sofreram no Egito. O Cordeiro simboliza a misericordiosa bondade de Deus, que salvou seu povo. Por meio do rito, comandado por Deus, a graça do passado coloca-se á disposição dos presentes e, ao mesmo tempo, torna-se penhor da salvação futura e definitiva. Após o HAGGADAH, isto é, (narração) Jesus preside á primeira parte do HALLEL, isto é, a (a recitação do Salmo 112). Por fim, é bebido o segundo cálice de vinho — o cálice do “HAGGADAH”. A terceira etapa do ritual é a ceia, na qual Jesus introduz duas novidades, adotadas até hoje pela Igreja. Após a oração convival sobre o pão ázimo, pronuncia a fórmula eucarística de consagração do pão: “ISTO É O MEU CORPO, QUE É DADO POR VÓS” (Lucas 22, 19), e ordena que o imitem em sua memória. Todos comem do carneiro e, feita nova prece convival, desta vez sobre a terceira taça — “O Cálice da Benção” —, Jesus introduz mais duas novidades: profere a fórmula eucarística de consagração do vinho e ordena que repitam seu gesto. Dessa maneira o cumprimento no mistério eucarístico, lembrança da morte e ressurreição de Jesus. Encerrando o ritual, despeja-se o vinho na quarta taça e recita-se a segunda parte do HALLEL, isto é, os Salmos 113-117. Essa oração final reforça a esperança messiânica, mais intensa durante a celebração (acreditava-se que o Messias viria numa noite de Páscoa). É provável que os salmos do HALLEL fossem entoados por um solista — no caso, Jesus — e que os demais — os apóstolos — replicassem “ALELUIA” após cada estrofe. Logo em seguida Jesus pronuncia a prece de louvor sobre a quarta taça, chamada taça do “HALLEL”. Em Mateus 26, 30 e Marcos 14, 26 encontramos essa frase, que assinala a passagem da Última Ceia à Paixão: “E, cantando o hino, saíram para o monte das Oliveiras”. Jesus serve-se de um termo — “MEMÓRIA-MEMORIAL” (em hebraico, ZIKKARON) — que no Antigo Testamento tinha enorme ressonância e um sentido técnico, mas não lhe atribui um significado de lembrança ou de pura comemoração. No Antigo Testamento, “MEMORIAL” é uma cerimônia litúrgica que, mediante elementos rituais instituídos pelo próprio Deus, traz para o presente um evento salvador do passado, transformando-o em penhor da salvação futura. Jesus, ao recorrer ao conceito “MEMORIAL”,   quer dizer que, mediante o pão e o vinho consagrados, o banquete sacrifical da Eucaristia torna sua obra redentora definitivamente presente para aqueles que participam da celebração. Ao mesmo tempo, quer dizer que esse banquete é penhor daquele que se realizará futuramente na glória do céu. Paulo elabora uma espécie de comentário a propósito do tempo “MEMÓRIA”: “Todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciareis a morte do Senhor, até que ele venha” (I Coríntios 11, 26). No momento da celebração (”comer”, “beber”, “anunciar”) estarão presentes o passado da redenção (“morte do Senhor”) e o penhor da glória celeste (a espera de sua vinda). O ”MEMORIAL”, que Jesus manda repetir, realiza-se mediante a consagração do “pão” e do “vinho”. Jesus em suja linguagem, na instituição da Eucaristia, não diz: “ISTO É A MINHA PRESENÇA”, “ISTO É A MINHA EXPIAÇÃO”, “ISTO É A NOVA ALIANÇA”, mas ele afirma: “ISTO É O CORPO”, quer dizer: ”ISTO SOU EU MESMO, NA MINHA REALIDADE CONCRETA E VERDADEIRA, QUE ME DOU A VÓS COMO ALIMENTO”. Jesus refere-se a um pão e a um cálice bem determinados. Jesus realiza os gestos de doação, pronuncia palavras totalmente originais, manda comer e beber e, por fim, ordena que tudo o que fez naquele momento seja repetido em sua memória. Depois da Última Ceia Jesus dirigiu-se para um lugar chamado Getsêmani, onde rezou durante algumas horas e foi capturado. A noite já vai avançada quando Jesus e os Doze percorrem em sentido inverso o caminho à encosta do Monte das Oliveiras, a leste da cidade, além da torrente do Cédron, e chegaram a um Jardim ou uma Granja, chamada Getsêmani, que significa “LAGAR DAS OLIVEIRAS”.

(1983 Rizzoli Editore S.p.A, Milão, A obra original (La Storia di Gesú) para o Brasil 1986 J B Industrias Gráficas - RJ).
(A Bíblia, Antigo e Novo Testamento, Ed. Abril Ltda, 1964)

Um comentário:

  1. Olá , sou Bruno Leite neto de Olavo da Silveira Leite e bisneto de Flávio Borges leite neto . O Luís Helvécio é meu tio avô, tio do meu pai Flávio Borges Leite Neto . Sempre quis conhecer o outro lado da minha família . Caso queiram entrar em contato trocar experiências meu whatsapp é +351 920 091 número de Portugal. Abraços a todos

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